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segunda-feira, 29 de abril de 2013
Sobre universos paralelos
A tristeza pesou, bateu, um baque surdo no peito. Não achava motivos para me apoiar, então cambaleava tonto, vista embaçada, queria chorar.
Deitei no chão, gelado, rabisquei um esboço de texto num papel amassado no bolso da calça, e parei.
Em algum universo paralelo eu estava sorrindo e corria nu em um leito de rio.
Em outro, eu tinha um nariz desproporcionalmente grande e comia sopa de legumes na janta enquanto olhava para o negrume do céu através do teto de vidro.
Em outro, eu era puro amor, e nada além. Ali, exatamente ali, naquele momento, eu vivia um pouquinho junto às minhas outras vidas paralelas, só observando.
Tinha a certeza de que muitos de mim estavam fazendo exatamente o mesmo, observando a minha situação monótona e desinteressante.
Me viam imaginativamente ali deitado, no chão gelado, punhos serrados, papel tosco amassado entre mãos. Em alguma destas vidas paralelas, eu era exatamente eu, apenas com um cílio a mais, uma verruga a mais, um dedo a mais, uma perna a mais... Tinha para cada pêlo do meu corpo uma vida, na qual em cada uma eu era de uma cor diferente. Amarelo, azul, verde, branco... Em algumas eu olhava para esquerda, em outras pra direita, e em muitas eu era cego.
Deitado ali, eu pensava em pulsares, pensava em vulcões, pensava em tudo, menos em coisas práticas. E pronto, desatei a chorar. Deseperadamente.
"Só pode ser a loucura", tratei de me dizer.
Mas eu bem sabia que loucuras têm toda sorte de nomes. Uns bem bonitos, até.
Rodrigo Aleixo
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