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quinta-feira, 9 de junho de 2016

Outras Ostras

Cultivamos certas mentiras como se fossem preciosidades, como pérolas dentro de ostras ainda vivas.
Certas mentiras são meras centelhas de esperança, pérolas-joia, para admirarmos diariamente na expectativa de que não sejam inverdades.
Outras mentiras são ostracismos, pondo-nos como pérolas-câncer de nós mesmos, calcados, incrustadas em nosso reflexo, antes cristalino, puro, translúcido.
A rispidez de certas pérolas não as deixa passarem fácil, tais-quais, para dentro de nossos corações-esôfagos: é preciso poli-las, lustra-las, deixa-las do tamanho exato e redondas para que desçam goela abaixo por vias-sábias; vias estas constantemente entupidas, bloqueadas, congestionadas por verdades vastas demais, grandes demais, doídas demais para engolirmos.

Chega a ser irônico obstruir verdades para deixar passarem as ostras, e, no entanto... cultivamos mentiras, certas como pérolas que nos foram jogadas.

Rodrigo Aleixo


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