É em palcos que a língua fala
Para que sapateie o som,
E em arte a palavra dança,
É estrela ou escolha, um dom
Blasé diante do céu
Não importa seu reflexo,
Tampouco quer um troféu
Por este veio complexo
E por mais que aqui se apinhem
Desejos, valores ou sonhos
E outros mais abundem,
São, no mais, enfadonhos
A palavra não sente,
Não chora, ou ri
Ela, logo, transcende
Está longe daí
Portanto, senhor poeta,
Se o queres bem ser,
Não mate palavras;
As deixe viver
Rodrigo Aleixo
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segunda-feira, 7 de outubro de 2013
segunda-feira, 29 de abril de 2013
Sobre universos paralelos
A tristeza pesou, bateu, um baque surdo no peito. Não achava motivos para me apoiar, então cambaleava tonto, vista embaçada, queria chorar.
Deitei no chão, gelado, rabisquei um esboço de texto num papel amassado no bolso da calça, e parei.
Em algum universo paralelo eu estava sorrindo e corria nu em um leito de rio.
Em outro, eu tinha um nariz desproporcionalmente grande e comia sopa de legumes na janta enquanto olhava para o negrume do céu através do teto de vidro.
Em outro, eu era puro amor, e nada além. Ali, exatamente ali, naquele momento, eu vivia um pouquinho junto às minhas outras vidas paralelas, só observando.
Tinha a certeza de que muitos de mim estavam fazendo exatamente o mesmo, observando a minha situação monótona e desinteressante.
Me viam imaginativamente ali deitado, no chão gelado, punhos serrados, papel tosco amassado entre mãos. Em alguma destas vidas paralelas, eu era exatamente eu, apenas com um cílio a mais, uma verruga a mais, um dedo a mais, uma perna a mais... Tinha para cada pêlo do meu corpo uma vida, na qual em cada uma eu era de uma cor diferente. Amarelo, azul, verde, branco... Em algumas eu olhava para esquerda, em outras pra direita, e em muitas eu era cego.
Deitado ali, eu pensava em pulsares, pensava em vulcões, pensava em tudo, menos em coisas práticas. E pronto, desatei a chorar. Deseperadamente.
"Só pode ser a loucura", tratei de me dizer.
Mas eu bem sabia que loucuras têm toda sorte de nomes. Uns bem bonitos, até.
Rodrigo Aleixo
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