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quinta-feira, 14 de novembro de 2013
De Vento e Rocha
É forte, a morte, se assim nos dói
Bem assim, de vento
Vazio ou cheio
É cantar teus devaneios, é sofrer de amor
No mais, sem tirar nem pôr
É esperar que se vá, o sol
Distante, apagando a luz
E não me alcança, a espuma do mar
Que repuxa da areia uns sonhos acabados
Fazer sorte como quem faz azar
É morta, a força, se assim não dói
Bem assim, de rocha
Cheia ou vazia
É cantar tuas alegrias, é amar seja quem for
No mais, é dar tudo de si
É esperar que ela venha, a lua
Redondo abajur que reluz
E me alcança, enfim, a maré alta
Que também leva pra areia uns sonhos novos
Rodrigo Aleixo
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Apenas Ame
Você pode achar que não vale arriscar
Pensar que é atirar sua razão ao mar
Sem mesmo dar à chance um lugar
Tente
Arrisque
Pense
Dê
Não tente amar antes de dizer
Valer dos riscos que vai lhe trazer
Dançar no escuro sem mesmo querer
Saber não deixar o outro sofrer
Diga
Traga
Queira
Saiba
Não diga amar como se diz em vão
Tente amar à quem tanto diz não
Amar mesmo à quem não vê razão
Sem nutrir mágoas pro seu coração
Ame
Ame
Apenas
Ame
Rodrigo Aleixo
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Bruta Poesia
Para que sapateie o som,
E em arte a palavra dança,
É estrela ou escolha, um dom
Blasé diante do céu
Não importa seu reflexo,
Tampouco quer um troféu
Por este veio complexo
E por mais que aqui se apinhem
Desejos, valores ou sonhos
E outros mais abundem,
São, no mais, enfadonhos
A palavra não sente,
Não chora, ou ri
Ela, logo, transcende
Está longe daí
Portanto, senhor poeta,
Se o queres bem ser,
Não mate palavras;
As deixe viver
Rodrigo Aleixo
segunda-feira, 29 de abril de 2013
Sobre universos paralelos
A tristeza pesou, bateu, um baque surdo no peito. Não achava motivos para me apoiar, então cambaleava tonto, vista embaçada, queria chorar.
Deitei no chão, gelado, rabisquei um esboço de texto num papel amassado no bolso da calça, e parei.
Em algum universo paralelo eu estava sorrindo e corria nu em um leito de rio.
Em outro, eu tinha um nariz desproporcionalmente grande e comia sopa de legumes na janta enquanto olhava para o negrume do céu através do teto de vidro.
Em outro, eu era puro amor, e nada além. Ali, exatamente ali, naquele momento, eu vivia um pouquinho junto às minhas outras vidas paralelas, só observando.
Tinha a certeza de que muitos de mim estavam fazendo exatamente o mesmo, observando a minha situação monótona e desinteressante.
Me viam imaginativamente ali deitado, no chão gelado, punhos serrados, papel tosco amassado entre mãos. Em alguma destas vidas paralelas, eu era exatamente eu, apenas com um cílio a mais, uma verruga a mais, um dedo a mais, uma perna a mais... Tinha para cada pêlo do meu corpo uma vida, na qual em cada uma eu era de uma cor diferente. Amarelo, azul, verde, branco... Em algumas eu olhava para esquerda, em outras pra direita, e em muitas eu era cego.
Deitado ali, eu pensava em pulsares, pensava em vulcões, pensava em tudo, menos em coisas práticas. E pronto, desatei a chorar. Deseperadamente.
"Só pode ser a loucura", tratei de me dizer.
Mas eu bem sabia que loucuras têm toda sorte de nomes. Uns bem bonitos, até.
Rodrigo Aleixo
domingo, 3 de fevereiro de 2013
Enriquecendo
Um dia quis enriquecer errado, da noite pro dia, coração gelado, por torpor ou mania.
Enriquecer padece, enriquecer magoa, quanta gente enriquece, tanta gente à toa.
Enriquecer ajuda, mas não pode ser só, enriquecer não dura, não cura, dá nó.
E que dó.
E que dó.
Para enriquecer correto, é preciso mudar, tanto no ver o mundo como na forma de amar.
Mas venha ver como enriqueci,
De amor, de saúde,
De esperança, bondade, fulgor de virtude.
E enriqueço mais, agora pra sempre,
Pois quero demais, aprender a ser gente.
No valor de viver, no amor que se sente.
Quero demais, encontrar minha gente.
E só.
E só.
domingo, 20 de janeiro de 2013
Vento d'Oeste
Busca-te, alma
Em um bosque bem vivo
Porta tua calma
À um porto perdido
Lava-te, mente
Ou em lago, ou em rio
Leva o que é quente
Do morno, ao frio
Sopra tua fé
Enquanto ainda a tem
Samba no pé
Quando o amor não vem
Vista tua face
Em rubor de coragem
Faça tua parte
Sem tirar vantagem
Seja feliz
Quando menos espera
Força e motriz
Na tua busca sincera
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Disse-me a Lua
Teus medos e angústias, supera
Tuas dores e torturas, supera
Supera mesmo a alegria
A mesmice, a agonia
Cria a tua aliança
Canta a tua música
Dança a tua dança
Deixa a tua súplica
Sorria assim, não padeças
Sobre alguém, nunca cresças
Acima sempre, os valores
Partilhe em vida, os amores
Deixa a tua aliança
Cria a tua música
Canta a tua dança
Dança a tua súplica
Mantém ainda as amizades
Os teus sonhos, as vontades
Os princípios, teu vigor
Sobretudo teu amor
Dança a tua aliança
Deixa a tua música
Cria a tua dança
Canta a tua súplica
Teu rancor, elimina
Não desfaças ninguém
A paciência, germina
Tuas crenças, também
Canta a tua aliança
Dança a tua música
Deixa a tua dança
Cria a tua súplica
Descança os pés
Descança a alma
E das marés
Pondere a calma
Cria a tua aliança
Canta a tua música
Dança a tua dança
Deixa a tua súplica
E então
Teus medos e angústias, assuma
Assuma mesmo a alegria
Tuas dores e torturas, assuma
A mesmice, a agonia
A cada noite, assuma-te