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sexta-feira, 24 de março de 2023

No café da manhã

Eu provei das lágrimas mais amargas,

Distintamente saborosas, adoçadas de tristeza, apenas.

Mão esquerda agarrada ao peito pisado,

Por entre os dedos, o pijama amarrotado e úmido, testemunho de uma noite atormentada.

Cotovelo sobre a mesa fria, buscando um reconforto qualquer,

Enquanto a mão direita, compadecida, tenra, me afagava o rosto...

Assim -- cansado -- amassado por um sono irrequieto de uns abraços descuidados do lençol.

Foram daí que essas minhas lágrimas, pesadas, carregadas de amargura, fluiram, autônomas,

Silenciosas, liberadoras, discretas,

Percorrendo cautelosas por meus dedos, tal qual ecos de um coração partido, até o momento da queda livre, rumo ao escuro

E amargo café, estagnado em sua xícara, na manhã de hoje.


Rodrigo Aleixo
(adaptado da versão de 6 de dezembro de 2018)